segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Saldo positivo em 2008?

A última edição da Revista Exame trouxe um especial sobre a Copa do Mundo. Na reportagem, “Bom de bola, ruim de negócio”,  a Lusa aparece como um dos seis clubes brasileiros que fecharam o ano com o saldo positivo. (Citada apenas no box).

Tem assessor de imprensa que luta a vida toda para que seu cliente tenha uma matéria na Exame ou Valor Econômico, no caso da Portuguesa, essa matéria não foi um release criado pelo assessor e nem um estratégia de marketing para valorizar o clube diante do público da revista Exame.

Portuguesa apareceu lá, por acaso, teria muito mais valor se o especial fosse o Brasileirão e a matéria tivesse um foco assim: Portuguesa fecha o ano com o saldo positivo, mesmo caindo para a série .

Se para o clube o saldo foi positivo, para o torcedor foi negativo. Mais uma vez, assistimos partidas dramáticas, um futebol ruim, pagamos ingressos caros e sofremos até a última rodada para ver a Lusa cair para a série B. Mais um ano sem o tão desejado título.

A Portuguesa é uma equipe, que infelizmente, não consegue colocar mais de 4 mil pessoas no Canindé e não pode comemorar esse “pequeno” saldo positivo, porque tenho certeza que 2009 o saldo foi negativo para o clube, que continuou na série B, se envolveu em diversos escândalos, perdeu mandos de campo, recebeu menos pela cota das transmissões de TV, etc... E sobrou mais uma vez para o torcedor que aturou o descaso dirigentes do clube e da CBF, a desorganização do calendário e da falta de vontade dos jogadores.

Imagine se a Portuguesa colocasse mais torcedores no Canindé, vendesse mais produtos oficiais, tivesse um time competitivo, uma divulgação forte e uma administração melhor. Como seria o saldo no fim do campeonato?

Quantas vezes o torcedor da Portuguesa já entrou em lojas como a Roxos e Doentes e perguntou: Por que não tem esse produto da Lusa? E o vendedor responde: Porque o clube não licencia todos os produtos. (Claro, que aí também tem o descaso dos fabricantes que optam em não fazer nada com a marca da Portuguesa, com medo que o produto fique encalhado nas lojas).

Espero que em 2010, a Portuguesa feche o ano com saldos, resultados e atitudes positivas.

Segue a reportagem na íntegra da Revista Exame.

Bom de bola, ruim de negócio
Por GUILHERME FOGAÇA


Espetáculo em campo à parte, o futebol brasileiro ainda tem um longo caminho a percorrer na gestão dos clubes e no aproveitamento econômico do esporte
Dentro de campo, a supremacia é inquestionável: o Brasil foi o único país que disputou todas as Copas do Mundo, tem a seleção que levantou a taça o maior número de vezes -  cinco -  e está sempre encabeçando o ranking mundial da Fifa. Temido pelos adversários com a bola em jogo, o futebol brasileiro é bem mais modesto longe dos gramados. Em termos de aproveitamento do esporte como atividade econômica, o Brasil ainda está na segunda divisão: 71% dos clubes brasileiros tiveram prejuízo em 2008, as dívidas acumuladas somam cerca de 2,3 bilhões de reais e a receita dos principais clubes brasileiros equivale ao faturamento do Real Madrid sozinho. Lá fora, os principais clubes da Europa viraram empresas, algumas cotadas em bolsa, e movimentam centenas de milhões de dólares. Por aqui, a maioria ainda é tocada na base do amor à camisa. "Em uma frase: falta capitalismo ao futebol brasileiro", diz Robson Calil, sócio da consultoria Deloitte e responsável pelos projetos da Copa do Mundo de 2014.


A dificuldade de aproveitar o potencial econômico do futebol no Brasil começa no degrau mais baixo - a gestão dos clubes. Os times brasileiros são associações sem fins lucrativos, cujo comando não é profissionalizado. Quem conduz a administração são dirigentes voluntários, que não recebem remuneração e, por isso, dividem seu tempo com outras atividades profissionais. Com uma gestão descuidada no campo financeiro, a maioria não consegue transformar o bom futebol em um negócio atrativo. Mesmo as receitas mais óbvias, como as de bilheteria, não são bem exploradas. A segurança precária nos estádios afugenta as famílias, a desorganização dificulta o acesso dos torcedores assíduos e a escassez de camarotes e assentos de melhor padrão impossibilita a cobrança de ingressos de alto valor. O resultado é a baixa ocupação dos estádios brasileiros: em média, cada partida do Campeonato Brasileiro recebe 17 500 torcedores - pouco mais de um terço do público nos campeonatos da Europa. 


Os consecutivos anos de má gestão e de resultados no vermelho deixaram para os clubes uma herança difícil de driblar - o acúmulo de passivos fiscais e trabalhistas. Alguns times, como o Flamengo, chegam a ter uma dívida duas vezes maior do que sua receita anual. Com as contas apertadas, os clubes recorrem àquela que é a principal fonte de financiamento do futebol brasileiro: a venda de jogadores. Dados da Casual Auditores Independentes, auditoria paulista especializada em clubes de futebol, mostram que a renda obtida pelos principais times brasileiros com a negociação de atletas em 2008 chegou a 397 milhões de reais, quase um terço da arrecadação total. "Os clubes aqui só conseguem sobreviver se vendem jogadores", diz o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, presidente do Palmeiras.


 Pior para o torcedor, que tem de assistir pela televisão ao sucesso de seus craques lá fora. A necessidade de vender atletas para recompor o caixa fez do Brasil a maior usina de formação de jogadores no mundo - a venda para o exterior ultrapassa a casa dos 1 000 atletas por ano. Nos campeonatos europeus, os brasileiros lideram o ranking das nacionalidades, com mais de 500 jogadores profissionais em campo- à frente de França e Portugal, por exemplo.


O Brasil já exportou atletas para os gramados mais remotos, como a ilha mediterrânea de Chipre e a ex-república soviética do Azerbaijão. Há um subproduto interessante da posição de fornecedor oficial de jogadores: a migração constante de atletas acaba criando mais espaço para o desenvolvimento de novos craques internamente. O que hoje é uma salvação para as finanças dos clubes, no entanto, poderia ser uma verdadeira máquina de captação se fosse feito com maior planejamento. Como precisam de dinheiro imediato, os times costumam vender para investidores locais participações minoritárias nos direitos econômicos dos jogadores antes mesmo de eles se tornarem alvo de ofertas.


Quando o jogador fica conhecido e é arrematado por outra equipe, os clubes levam uma fatia menor da bolada. ?Se os times estivessem mais fortalecidos financeiramente, não precisariam se desfazer de seus jogadores em um estágio tão inicial?, diz o empresário Giuseppe Dioguardi, agente da Fifa que investe em participações de jogadores brasileiros.No mercado internacional, principalmente na Europa, a realidade é bastante diferente. A maioria dos clubes funciona como empresa, com metas e gestãoprofissionalizada. Os estádios ganharam feições de shopping center, com lojas e restaurantes, e possuem áreas vip para reuniões de executivos. Uma dasreferências é o inglês Manchester United, que há seis anos lidera a lista dos times mais valiosos do mundo, segundo a revista americana Forbes. Avaliado em 1,9 bilhão de dólares, o clube é visto pelos especialistas como exemplo de diversificação de receitas e de bom uso da marca, que atrai torcedores e consumidores de todo o mundo.


Pelo site do Manchester, é possível comprar ingressos sem filas, adquirir camisetas e acessórios do time e contratar serviços financeiros, como cartões de crédito e seguros. ?Lá fora, os clubes têm uma visão comercial desenvolvida, ao contrário do que acontece no Brasil?, diz Felix Álvares Garmon, vice-presidente da IMG, uma das maiores agências de marketing esportivo do mundo. O desenvolvimento econômico do futebol inglês, no entanto, só ocorreu após um esforço coletivo por parte dos clubes e do governo. Degradado pela violência nos estádios, na década de 80, o esporte na Inglaterra lutou para transformar a baderna dos hooligans em um mercado economicamente atrativo. O marco para a mudança foi a tragédia ocorrida em abril de 1989, quando 96 torcedores do Liverpool morreram esmagados pelo excesso de público em uma das alas do estádio Hillsborough, na cidade de Sheffield. O episódio deu origem a uma série de medidas de reestruturação, como melhorias na segurança e na estrutura dos estádios.


Hoje, diversos clubes estão nas mãos de investidores, como o Manchester City, cujo principal acionista é o Sheikh Mansour, um dos 19 irmãos do presidente dos Emirados Árabes Unidos. ?A Inglaterra fez uma verdadeira revolução, que só seria possível no Brasil com um conjunto de mudanças, desde as finanças dos clubes até a qualidade da arbitragem e o aumento de transparência da CBF?, diz a economista Elena Landau, ex-diretora do BNDES.


Os impérios formados pelos clubes europeus, no entanto, enfraquecem o característico efeito-surpresa do futebol. Na Espanha, os gigantes Real Madrid e Barcelona formaram um duopólio: nos últimos 25 campeonatos, eles levaram a taça 21 vezes. ?Cada país europeu tem, no máximo, quatro times de ponta.


No Brasil, normalmente existe uma dúzia de clubes no páreo?, diz André Coutinho, sócio da consultoria KPMG responsável por projetos ligados à Copa. Bom para o campeonato local, que tem uma disputa mais acirrada, ruim para as finanças dos clubes, que ficam com o poder disperso na hora de negociar. Na venda dos direitos de transmissão dos jogos pela televisão, cada um dos principais times brasileiros recebeu cerca de 34 milhões de reais em 2008 - o equivalente a um quarto dos ganhos do alemão Bayern de Munique com a venda dos direitos de transmissão dos jogos.  


O futebol brasileiro passou por uma tentativa de melhoria na gestão por volta dos anos 2000, quando alguns fundos de investimento aportaram em clubes locais. O fundo texano Hicks, Muse, Tate & Furst fez um contrato de cerca de 60 milhões de dólares com o Corinthians para explorar a marca do clube. Outros times, como Cruzeiro e Vasco, também receberam dinheiro de sócios capitalistas.


A dificuldade de pôr a casa em ordem, somada à conjuntura econômica desfavorável - crise da internet no mundo e desvalorização do real no Brasil -, fez as parcerias desandar. ?Todo investidor busca retorno financeiro, mas os fundos não tiveram a receita que esperavam?, diz Lorival Santos, ex-consultor técnico do Hicks, Muse. Em 2005, a esperança de acabar com a caixa-preta do futebol brasileiro ressurgiu com um projeto de lei que previa o aumento das exigências de transparência dos clubes - quem não prestasse contas com o aval de uma auditoria externa correria o risco de ficar de fora dos campeonatos. Até agora, no entanto, as mudanças não passaram pelo Congresso Nacional.


Recentemente, alguns clubes brasileiros começaram a dar passos para a melhoria da situação econômica. O São Paulo adotou planos de diversificação de receitas e fortalecimento da marca. Uma das iniciativas foi a criação da grife SAO Store, rede que tem loja na rua Oscar Freire, centro de consumo de luxo da capital paulista. No estádio do Morumbi, o São Paulo instalou livraria, restaurante e casa de eventos - e prevê o lançamento de uma academia de ginástica no próximo ano. ?Com as iniciativas, a visitação diária passou de 300 para 3 000 pessoas de 2002 para cá?, diz Julio Casares, vice-presidente de marketing do São Paulo.


Medidas como essa fazem com que o São Paulo seja responsável por 30% dos 168 milhões de reais arrecadados em 2008 pelos principais clubes brasileiros com receitas alternativas - que excluem ganhos com transferência de jogadores, bilheteria, patrocínio e televisionamento. O Internacional, de Porto Alegre, fez campanhas de marketing para aumentar o número de sócios - em julho, o clube atingiu 100 000 associados, constituindo a sexta maior base de sócio-torcedor do mundo. Segundo Décio Hartmann, vice-presidente de administração do Internacional, a receita com a mensalidade dos sócios representa 30% dos ganhos. São passos tímidos, mas podem indicar um caminho. Em um país onde as torcidas formam verdadeiras nações de consumidores, o futebol tem de se provar capaz de gerar bons resultados também fora dos gramados.  

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