segunda-feira, 17 de junho de 2013

O Clube do deboche

Por Elcio Mendonça 

No mundo coorporativo, qualquer empresa que comercializa produtos sabe que seu principal “patrimônio” é o consumidor. Não por acaso, afinal, se ele está satisfeito e em “sintonia” com a marca, tende a consumir mais produtos, gerando mais receitas e, consequentemente, maior lucro.

O futebol não é bem diferente disso. Embora o torcedor não siga a mesma lógica do consumidor, uma vez que torcer é diferente de consumir, ele, de certa forma, também consome.

É claro que a paixão por um time não é algo que se compra, mas esse sentimento, ligado a um bom momento do clube ou à sintonia entre as partes, o faz consumir, seja através de ingressos ou pacotes de sócio torcedor ou na compra de produtos oficiais, como camisas e demais licenciados.

Nesse cenário, clubes ao redor mundo trabalham com departamentos voltados exclusivamente para esse relacionamento com o torcedor. Seja para ouvi-lo ou para fazê-lo consumir, quando, não raramente, faz ambas as coisas.

Sendo assim, é curiosa a forma como a Portuguesa se afasta do torcedor. Há muito tempo não existe um canal que ligue o clube à sua torcida. As mídias sociais, que poderiam fazer essa ponte, trabalham de forma burocrática (quando não cutucam o próprio torcedor), enquanto a diretoria, principalmente o presidente Manuel da Conceição Ferreira, não se esforça para construir um diálogo.

Mas a inércia nas conversações transformou-se em uma espécie de guerra fria. É como se no Canindé houvesse um apartheid entre torcida e clube, também levando consigo jogadores e, principalmente, comissão técnica.

Se não bastasse a grande rejeição ao presidente, assim como, embora em menor escala, ao gerente de futebol Candinho, outro protagonista rouba a cena.

Trata-se de Edson Pimenta, um coronel aposentado da Polícia Militar, que, segundo o jornalista Rafael Ribeiro, já foi investigado pela Justiça por conta de execuções de suspeitos no bairro do Sacomã, zona sul de São Paulo, em 1999.

Pimenta, como interino, já era um deboche. “Promovido” interinamente após a demissão de Péricles Chamusca, na reta final da A2, o até então auxiliar técnico tinha a missão de vencer o Estadual, deixando o cargo livre para um profissional assumir antes de ter início o Brasileirão.

Mas o Paulista acabou, o Brasileiro chegou e a promessa da saída, tão desejada pela torcida, ficou para o recesso da Copa. Só que no recesso da Copa o discurso mudou. Não virá um novo técnico, assim como provavelmente não chegarão reforços. Promessas não cumpridas, novo deboche com o torcedor.

Pergunto se em sua imobiliária o presidente contratou um estagiário para ser gerente de vendas ou se Roberto dos Santos, vice de futebol, também tem um estagiário tomando decisões em sua metalúrgica. Provavelmente não, mas na Portuguesa o treinador é um estagiário da bola, uma pessoa sem experiência alguma na função. E isso logo em uma difícil Série A, aonde o time luso tem o menor orçamento e é um dos favoritos ao descenso. Motivos de sobra para ter algum profissional como técnico, não concordam?

Mas se não bastasse a falta de experiência, Pimenta abusa da prepotência em suas entrevistas, fazendo inveja até ao português José Mourinho, conhecido por suas coletivas de imprensa não muito convencionais.

Despreparado para atender os jornalistas, o treinador já bateu boca com um repórter, perdeu o controle ao falar que foi xingado por (pasmem!!) um menino que não tinha mais do que oito anos de idade e afirmou “que a Portuguesa precisa mais dele do que ele da Portuguesa”. Uma declaração um tanto exagerada para um profissional do ramo, imagine, então, para alguém que inicia agora uma carreira.

Mas os deboches não param por aí. Ele, que também já disse que comanda um grupo “formado por jogadores de Série A2” e que “se cair, vai estar dentro do esperado”, surtou após o empate em 1 a 1 com o Internacional, pela quarta rodada, no Canindé.

Afirmou que o torcedor da Portuguesa “não gosta de sexo” e enquanto está no jogo, “suas mulheres estão batendo perna por aí”. Não é preciso dizer que tal comportamento não é digno de um profissional, mostrando profundo desrespeito ao clube e seus torcedores. Mais do que isso. Ofendeu mães, filhas, esposas e namoradas, chamou os homens de corno...

Um grupo de torcedores organizou uma resposta à altura pelas mídias sociais, com o slogan: “Eu gosto de sexo, pergunte à Sra. Pimenta”.

Como era esperado, o protesto chegou aos ouvidos de Pimenta e seus familiares. Mas o que não se esperava era a reação de um de seus três filhos, Renato, que fez ameaças a um torcedor, fazendo uma alusão à ligação da família com a Polícia Militar.

A ameaça, por si só, já era algo sério. Envolvendo a PM, se torna abuso de autoridade. Depois da agressão à liberdade e à democracia, protagonizadas de forma violenta pela polícia na última quinta-feira, em São Paulo, há motivos para preocupação no Canindé.

E assim segue a Portuguesa. Cada vez mais longe do seu torcedor e perto de um desfecho que não agradará a ninguém. Às custas do que? O tempo dirá. Afinal, as máscaras sempre caem.


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